"Mesmo que você feche os ouvidos E as janelas do vestido Minha musa vai cair em tentação Mesmo porque estou falando grego com sua imaginação Mesmo que você fuja de mim por labirintos e alçapões Saiba que os poetas como os cegos podem ver na escuridão E eis que, menos sábios do que antes Os seus lábios ofegantes hão de se entregar assim Me leve até o fim Me leve até o fim!"
A novidade que tem no Brejo da Cruz é a crinçada se alimentar de luz. Alucinados, meninos ficando azuis e desencarnando, lá no Brejo da Cruz.
Creio que com esses versos nosso GRANDE poeta produz uma das formas mais profundas de que tenho notícia de descrever a FOME que assola as crianças em nosso país.
Não se afobe não, que nada é pra já O amor não tem pressa, ele pode esperar em silêncio Num fundo de armário, na posta-restante Milênios, milênios no ar E quem sabe, então o Rio será alguma cidade submersa Os escafandristas virão explorar sua casa Seu quarto, suas coisas, sua alma, desvãos Sábios em vão tentarão decifrar O eco de antigas palavras Fragmentos de cartas, poemas Mentiras, retratos Vestígios de estranha civilização Não se afobe, não, que nada é pra já Amores serão sempre amáveis Futuros amantes, quiçá Se amarão sem saber Com o amor que eu um dia Deixei pra você
De..."apesar de você amanhã há de ser outro dia/você vai ter que ver a manhã renascer/ e esbanjar poesia" dos meus 14 anos -impacto que se repete até hoje- (e olha que são alguns muitos anos à frente...), à profunda empatia em "eu quero te contar/das chuvas que apanhei/das noites que varei/no escuro a te buscar/Eu quero te mostrar/ as marcas que ganhei/nas lutas contra o rei/nas discussões com Deus..." chego à poesia pungente do romance Leite derramado... " até o fim eu deixei todas as portas abertas para ela" (p. 47)..."Era como se a cada passo eu me rasgasse um pouco, porque minha pele tinha ficado presa naquela mulher"(p. 56)
De tempos em tempos as canções do Chico Buarque nos leem de um jeito. Sem dúvida são canções atemporais. Selecionei quatro pequenos trechos que me parecem reveladores, ousados, verborrágicos. Esse jeito que o Chico tem de nos revirar as entranhas...
"Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de atenas...quando ele voltam sedentos/querem arrancar violentos/carícias plenas, obcenas"
"eu sou sua fêmea, seu divã...sou igual a você eu não presto/eu não presto"
"Chega estampado/manchete,retrato/com vendas nos velhos/legendas e as iniciais...Desde o começo eu não disse/ seu moço/ele disse que chegava lá..."
"vai alegria/que a vida Maria/não passa de um dia..."
Bárbara Chico Buarque Composição: Chico Buarque - Ruy Guerra
"Bárbara, Bárbara Nunca é tarde, nunca é demais Onde estou, onde estás Meu amor, vem me buscar
O meu destino é caminhar assim Desesperada e nua Sabendo que no fim da noite serei tua Deixa eu te proteger do mal, dos medos e da chuva Acumulando de prazeres teu leito de viúva"
Ana de Amsterdam Chico Buarque Composição: Chico Buarque/Ruy Guerra
"Sou Ana do dique e das docas Da compra, da venda, das trocas de pernas Dos braços, das bocas, do lixo, dos bichos, das fichas Sou Ana das loucas Até amanhã Sou Ana Da cama, da cana, fulana, sacana Sou Ana de Amsterdam
Eu cruzei um oceano Na esperança de casar Fiz mil bocas pra Solano Fui beijada por Gaspar
Sou Ana de cabo a tenente Sou Ana de toda patente, das Índias Sou Ana do oriente, ocidente, acidente, gelada Sou Ana, obrigada Até amanhã, sou Ana Do cabo, do raso, do rabo, dos ratos Sou Ana de Amsterdam
Arrisquei muita braçada Na esperança de outro mar Hoje sou carta marcada Hoje sou jogo de azar
Sou Ana de vinte minutos Sou Ana da brasa dos brutos na coxa Que apaga charutos Sou Ana dos dentes rangendo E dos olhos enxutos Até amanhã, sou Ana Das marcas, das macas, da vacas, das pratas Sou Ana de Amsterdam"
Msg enviada por Carlos Ruminot , estudioso de MPB, do Chile. "Eu aprecio sua ajuda nesta publicação de poesia de Chico Buarque, que é uma das muitas que vêm para o fundo da alma. "
"Futuros Amantes'
Não se afobe, não Que nada é pra já O amor não tem pressa Ele pode esperar em silêncio Num fundo de armário Na posta-restante Milênios, milênios No ar E quem sabe, então O Rio será Alguma cidade submersa Os escafandristas virão Explorar sua casa Seu quarto, suas coisas Sua alma, desvãos Sábios em vão Tentarão decifrar O eco de antigas palavras Fragmentos de cartas, poemas Mentiras, retratos Vestígios de estranha civilização Não se afobe, não Que nada é pra já Amores serão sempre amáveis Futuros amantes, quiçá Se amarão sem saber Com o amor que eu um dia Deixei pra você
Divíduo: divido meu verso em dois. Trago a mais bela quadra de minha infância -quando "eu era o herói" e nem sabia: "Estava à toa na vida o meu amor me chamou pra ver abanda passar cantando coisas de amor." (A BANDA, 1966) E levo no meu bolso um único verso de minha terceira margem do rio: "O que é que a vida vai fazer de mim?" (JOÃO E MARIA, 1977)
(Fragmentos para ruminar depois que a banda passar cantando coisas de amor e VivoVersoBrasileiro. Augusto Rodrigues
"Há de haver algum lugar Um confuso casarão Onde os sonhos serão reais E a vida não [...]
Um lugar deve existir Uma espécie de bazar Onde os sonhos extraviados Vão parar Entre escadas que fogem dos pés E relógios que rodam pra trás Se eu pudesse encontrar meu amor Não voltava Jamais".
Minha alma se extravia quando ouço esses versos. Sylvia, bonita homenagem! Chico, só ele é assim Buarque!
"Mesmo que você feche os ouvidos
ResponderExcluirE as janelas do vestido
Minha musa vai cair em tentação
Mesmo porque estou falando grego
com sua imaginação
Mesmo que você fuja de mim
por labirintos e alçapões
Saiba que os poetas como os cegos
podem ver na escuridão
E eis que, menos sábios do que antes
Os seus lábios ofegantes
hão de se entregar assim
Me leve até o fim
Me leve até o fim!"
A novidade que tem no Brejo da Cruz
ResponderExcluiré a crinçada se alimentar de luz.
Alucinados, meninos ficando azuis
e desencarnando,
lá no Brejo da Cruz.
Creio que com esses versos nosso GRANDE poeta produz uma das formas mais profundas de que tenho notícia de descrever a FOME que assola as crianças em nosso país.
Não se afobe não, que nada é pra já
ResponderExcluirO amor não tem pressa, ele pode esperar em silêncio
Num fundo de armário, na posta-restante
Milênios, milênios no ar
E quem sabe, então o Rio será alguma cidade submersa
Os escafandristas virão explorar sua casa
Seu quarto, suas coisas, sua alma, desvãos
Sábios em vão tentarão decifrar
O eco de antigas palavras
Fragmentos de cartas, poemas
Mentiras, retratos
Vestígios de estranha civilização
Não se afobe, não, que nada é pra já
Amores serão sempre amáveis
Futuros amantes, quiçá
Se amarão sem saber
Com o amor que eu um dia
Deixei pra você
(Sergio e Marta Salomon)
De..."apesar de você amanhã há de ser outro dia/você vai ter que ver a manhã renascer/
ResponderExcluire esbanjar poesia" dos meus 14 anos -impacto que se repete até hoje- (e olha que são alguns muitos anos à frente...),
à profunda empatia em "eu quero te contar/das chuvas que apanhei/das noites que varei/no escuro a te buscar/Eu quero te mostrar/ as marcas que ganhei/nas lutas contra o rei/nas discussões com Deus..." chego à poesia pungente do romance Leite derramado...
" até o fim eu deixei todas as portas abertas para ela" (p. 47)..."Era como se a cada passo eu me rasgasse um pouco, porque minha pele tinha ficado presa naquela mulher"(p. 56)
Evoè , Chico!Por favor...mais sessenta e cinco!
De tempos em tempos as canções do Chico Buarque nos leem de um jeito. Sem dúvida são canções atemporais. Selecionei quatro pequenos trechos que me parecem reveladores, ousados, verborrágicos. Esse jeito que o Chico tem de nos revirar as entranhas...
ResponderExcluir"Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de atenas...quando ele voltam sedentos/querem arrancar violentos/carícias plenas, obcenas"
"eu sou sua fêmea, seu divã...sou igual a você eu não presto/eu não presto"
"Chega estampado/manchete,retrato/com vendas nos velhos/legendas e as iniciais...Desde o começo eu não disse/ seu moço/ele disse que chegava lá..."
"vai alegria/que a vida Maria/não passa de um dia..."
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluir"Leva o vulto teu
ResponderExcluirQue a saudade é o revés de um parto
A saudade é arrumar o quarto
Do filho que já morreu"
em Pedaço de Mim
optei por esses versos por acreditar ser a definição mais perfeita e real do que é SAUDADE e perda...
Bárbara
ResponderExcluirChico Buarque
Composição: Chico Buarque - Ruy Guerra
"Bárbara, Bárbara
Nunca é tarde, nunca é demais
Onde estou, onde estás
Meu amor, vem me buscar
O meu destino é caminhar assim
Desesperada e nua
Sabendo que no fim da noite serei tua
Deixa eu te proteger do mal, dos medos e da chuva
Acumulando de prazeres teu leito de viúva"
Ana de Amsterdam
ResponderExcluirChico Buarque
Composição: Chico Buarque/Ruy Guerra
"Sou Ana do dique e das docas
Da compra, da venda, das trocas de pernas
Dos braços, das bocas, do lixo, dos bichos, das fichas
Sou Ana das loucas
Até amanhã
Sou Ana
Da cama, da cana, fulana, sacana
Sou Ana de Amsterdam
Eu cruzei um oceano
Na esperança de casar
Fiz mil bocas pra Solano
Fui beijada por Gaspar
Sou Ana de cabo a tenente
Sou Ana de toda patente, das Índias
Sou Ana do oriente, ocidente, acidente, gelada
Sou Ana, obrigada
Até amanhã, sou Ana
Do cabo, do raso, do rabo, dos ratos
Sou Ana de Amsterdam
Arrisquei muita braçada
Na esperança de outro mar
Hoje sou carta marcada
Hoje sou jogo de azar
Sou Ana de vinte minutos
Sou Ana da brasa dos brutos na coxa
Que apaga charutos
Sou Ana dos dentes rangendo
E dos olhos enxutos
Até amanhã, sou Ana
Das marcas, das macas, da vacas, das pratas
Sou Ana de Amsterdam"
Msg enviada por Carlos Ruminot , estudioso de MPB, do Chile. "Eu aprecio sua ajuda nesta publicação de poesia de Chico Buarque,
ResponderExcluirque é uma das muitas que vêm para o fundo da alma. "
"Futuros Amantes'
Não se afobe, não
Que nada é pra já
O amor não tem pressa
Ele pode esperar em silêncio
Num fundo de armário
Na posta-restante
Milênios, milênios
No ar
E quem sabe, então
O Rio será
Alguma cidade submersa
Os escafandristas virão
Explorar sua casa
Seu quarto, suas coisas
Sua alma, desvãos
Sábios em vão
Tentarão decifrar
O eco de antigas palavras
Fragmentos de cartas, poemas
Mentiras, retratos
Vestígios de estranha civilização
Não se afobe, não
Que nada é pra já
Amores serão sempre amáveis
Futuros amantes, quiçá
Se amarão sem saber
Com o amor que eu um dia
Deixei pra você
Divíduo: divido meu verso em dois.
ResponderExcluirTrago a mais bela quadra de minha infância -quando "eu era o herói" e nem sabia:
"Estava à toa na vida
o meu amor me chamou
pra ver abanda passar
cantando coisas de amor."
(A BANDA, 1966)
E levo no meu bolso um único verso de minha terceira margem do rio:
"O que é que a vida vai fazer de mim?"
(JOÃO E MARIA, 1977)
(Fragmentos para ruminar depois que a banda passar cantando coisas de amor e VivoVersoBrasileiro.
Augusto Rodrigues
"Quero ficar no seu corpo
ResponderExcluirfeito tatuagem
que é pra te dar coragem
pra seguir viagem
quando a noite vem"
Tatuagem
Simplesmente Lindooo!!!
Maxçuny
A MOÇA DO SONHO
ResponderExcluir"Há de haver algum lugar
Um confuso casarão
Onde os sonhos serão reais
E a vida não [...]
Um lugar deve existir
Uma espécie de bazar
Onde os sonhos extraviados
Vão parar
Entre escadas que fogem dos pés
E relógios que rodam pra trás
Se eu pudesse encontrar meu amor
Não voltava
Jamais".
Minha alma se extravia quando ouço esses versos. Sylvia, bonita homenagem! Chico, só ele é assim Buarque!
"Me conta como ei de partir,
ResponderExcluirSe entornaste a nossa sorte pelo chão
Se na bagunça do teu coração
Meu sangue errou de veia e se perdeu"
"Não, acho que estás te fazendo de tonta
Te dei meus olhos pra tomares conta
Agora conta como hei de partir".
Pra tirar o punhal do coração...:
ResponderExcluir"No peito a saudade cativa,
Faz força pro tempo parar,
Mas eis que chega a roda viva,
E carrega a saudade pra lá…"