segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

POEMAS DE UMA VIVÊNCIA COLETIVA


No último sábado, dia 25, no CCBB, promovemos a Oficina de Poesia do projeto ESCRITORES BRASILEIROS*, com o objetivo de estimular a criatividade e a auto-compreensão, a partir da leitura.

A tarde constou de vários momentos animados, entre eles a vivência de criação coletiva e a participação de Felipe Cyntrão que cantou demonstrando o processo de intertexto em suas canções e deu uma prévia de seu Cd  "Bsb, Só ela" (no prelo, para breve).

Reproduzo in natura os 5 textos da criação coletiva , que teve como apoio visual o quadro "Rosa Meditativa" de Salvador Dali e foram lidos-declamados em sequência aleatória após a produção, mobilizando fortemente o grupo.
 
I-
Vi naquela rosa o seu deserto
Seus pequenos e grandes lábios
Me enroscaram na noite de ontem
E vivi um feliz desabrochar
Viver aquela rosa é o meu deserto
Encontro  que estou sempre a esperar

II-
Consciência elevada
Meus pés estão no chão
Mas eu não
O amor me deu asas e eu voei
Expressão do despertar da beleza singela da juventude

III-
Plantei uma rosa no meu jardim
Mas não imaginei tanto florir
Goteja sangue no cenário ocre
Das pessoas desgarradas
No chão sem cor
Mas pode ser suave se experimentado
Com ardor
Com cor
A-m-o-r

IV-
Viver é contemplar as coisas grandiosas e as simples
Deserto, céu, pessoas, rosa
Sentimentos expurgados numa sala estranha
Só o deserto segura a rosa
E o nosso peito
Este peito asfáltico perfurado e rasgado pela flor
Flor que fura o tédio, nojo e ódio
Flor que perdura ainda que a alma esteja inóspita
Manchada do sangue que jorra
Flor que vaga
Num vagar infinito

V-
Viajar no vazio repleto de sensações
Um homem velho banguela comendo pipoca
Uma rosa suspensa no sentimento do mundo
Eu só deveria ter te amado como se não houvesse amanhã.

Dos inspirados:  
Aldmeriza, Amanda Regina, Andressa Matias, Aparecida Ivonery, Celia Ambrosio, Claudia Kamp, Elicio Pontes, Elisete Teixeira, Gustavo Rolim, Guto Resende, Italo Mendes, Lenir Fidelis, Marcelo Andrade, Maria das Graças Antunes, Silvana Faveri, Sofia Faveri, Juliana, João Elias, Vani Emment.
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Em seguida apresento o "poema-intertexto" que fiz : uma homenagem aos autores da tarde de sábado, a partir dos versos por eles produzidos.

Naquela rosa o seu deserto:
asas e despertar  
meus pés no chão
mas eu não
...consciência elevada

Pequenos e grandes lábios
me enroscaram na noite
e vivi...
que viver aquela rosa é  meu deserto
e  meu encontro  

Goteja sangue no cenário ocre
das pessoas desgarradas
no chão sem cor.
Uma rosa no meu jardim
e o florir...

Viver é contemplar
deserto, céu, pessoas, rosa
suave em ardor
cor
a-m-o-r

Sentimentos expurgados
no peito asfáltico rasgado pela flor
que fura o tédio, nojo e ódio
e perdura na alma inóspita
manchada do sangue que jorra.

Rosa suspensa no sentimento do mundo,
um homem velho banguela comendo pipoca
é flor que vaga
no vazio repleto de sensações,
como se não houvesse amanhã.

Só, o deserto segura a rosa
...e  o nosso peito.

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* Agradeço  ao curador, Marcelo Andrade, e à Cátedra Unesco da PUC-RIO, em especial à profa. dra. Eliana Yunes.