sexta-feira, 11 de junho de 2010

É 12 de junho, fale de amor com o Vivoverso!


" Falamos de amor - na música, na literatura, na poesia- para evocar o indescritível e justificar uma escolha racionalmente injustificável (...) toda fala de amor é um discurso do não saber (...) aproximando-se por isso da linguagem sagrada e teológica, ou seja, da expressão daquilo cuja verdade jamais se estende, banhada de luminosidade , à frente do olhar humano"

     (por José Luís Furtado, em seu livro Amor, Editora Globo, 2008)

Do espetáculo "Fale-me de amor! " apresentado pelo Vivoverso na
"I Bienal Internacional de Poesia de Brasília", lembro alguns dos versos especiais de Affonso Romano de Sant`Anna que permanecem inspirando pesquisas, reflexões e ações:

Uns aprendem a nadar
Outros a dançar, tocar piano,
Fazer tricô e a esperar

Na infância cai-se
Para se aprender a andar,
Cai-se do cavalo e do emprego
Aprendendo a viver e a cavalgar


Em alguns aprendizados
Chega-se à perfeição.
Em alguns.

 
No amor, não.

***
Agora... deixe pra nós seus versos de amor preferidos!

7 comentários:

  1. Meu preferido desde as aulas de literatura no ensino médio...

    Soneto (Álvares de Azevedo)

    Pálida, à luz da lâmpada sombria,
    Sobre o leito de flores reclinada,
    Como a lua por noite embalsamada,
    Entre as nuvens do amor ela dormia!
    Era a virgem do mar! Na escuma fria
    Pela maré das águas embalada!
    Era um anjo entre nuvens d'alvorada
    Que em sonhos se banhava e se esquecia!
    Era mais bela! O seio palpitando...
    Negros olhos as pálpebras abrindo...
    Formas nuas no leito resvalando...
    Não te rias de mim, meu anjo lindo!
    Por ti - as noites eu velei chorando,
    Por ti - nos sonhos morrerei sorrindo!
    ***
    Abraços,

    Brunna Guedes.

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  2. "Mas eu descobri a casa onde posso adormecer
    Eu já desvendei o mundo e o tempo de perder
    Aqui tudo é mais forte e há mais cor no céu maior
    Aqui tudo é tão novo tudo pode ser amor

    Mas onde tudo morre tudo volta a nascer

    Em ti vejo o tempo que passou
    Vejo o sangue que correu
    Vejo a força que moveu
    Quando tudo parou em ti
    A tempestade que não há em ti
    Arrastando para o teu lugar
    E é em ti que vou ficar

    Já é dia e a luz
    Está em tudo o que se vê
    Cá dentro não se ouve
    O que lá fora faz chover
    Na cidade que há em ti
    Encontrei o meu lugar
    É em ti que vou ficar."

    Trecho de O Lugar, do cantor e compositor português Tiago Bettencourt.

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  3. Cervantes (Don Quixote)

    "Não lhe hão de valer as suas más artes contra a bondade da minha espada!"

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  4. - Iara!
    É um vocábulo guarani: significa a senhora.
    Dom Antônio levantou-se; volvendo olhos rápidos, viu sobre a eminência
    que ficava sobranceira ao lugar em que estava Cecília, um quadro
    original.
    De pé, fortemente apoiado sobre a base estreita que formava a rocha, um
    selvagem coberto com um ligeiro saio de algodão metia o ombro a uma
    lasca de pedra que se desencravara do seu alvéolo e ia rolar pela
    encosta.
    O índio fazia um esforço supremo para suster o peso da laje prestes a
    esmagá-lo; e com o braço estendido de encontro a um galho de árvore
    mantinha por uma tensão violenta dos músculos o equilíbrio do corpo.
    A árvore tremia; por momentos parecia que pedra e homem se enrolavam
    numa mesma volta, e precipitavam sobre a menina sentada na aba da colina.

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  5. "- Tu, senhora, zangada com Peri! Por quê?
    - Porque Peri é mau e ingrato; em vez de ficar perto de sua senhora, vai
    caçar em risco de morrer! disse a moça ressentida.
    - Ceci desejou ver uma onça viva!
    - Então não posso gracejar? Basta que eu deseje uma coisa para que tu
    corras atrás dela como um louco?
    - Quando Ceci acha bonita uma flor, Peri não vai buscar? perguntou o índio.
    - Vai, sim.
    - Quando Ceci ouve cantar o sofrer, Peri não o vai procurar?
    - Que tem isso?
    - Pois Ceci desejou ver uma onça, Peri a foi buscar.
    Cecília não pôde reprimir um sorriso ouvindo esse silogismo rude, a que
    a linguagem singela e concisa do índio dava uma certa poesia e
    originalidade.
    Mas estava resolvida a conservar a sua severidade, e ralhar com Peri por
    causa do susto que lhe havia feito na véspera.
    - Isto não é razão, continuou ela; porventura um animal feroz é a mesma
    coisa que um pássaro, e apanha-se como uma flor?
    -Tudo é o mesmo, desde que te causa prazer, senhora.
    - Mas então, exclamou a menina com um assomo de impaciência, se eu te
    pedisse aquela nuvem?...
    E apontou para os brancos vapores que passavam ainda envolvidos nas
    sombras pálidas da noite.
    - Peri ia buscar.
    - A nuvem? perguntou a moça admirada.
    - Sim, a nuvem.
    Cecília pensou que o índio tinha perdido a cabeça; ele continuou:
    - Somente como a nuvem não é da terra e o homem não pode tocá-la, Peri
    morria e ia pedir ao Senhor do céu a nuvem para dar a Ceci."

    O Guarani

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  6. O Guarani é a mais delicada e bela história de amor do romantismo brasileiro. Muito belos os trechos escolhidos, Felipe...pura prosa poética!

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  7. Todos os dias têm a sua história, um só minuto levaria anos a contar, o mínimo gesto, o descasque miudinho duma palavra, duma sílaba, dum som, para já não falar dos pensamentos, que é coisa de muito estofo, pensar no que se pensa, ou pensou, ou está pensando, e que pensamento é esse que pensa o outro pensamento, não acabaríamos nunca mais.
    ( trecho retirado do livro "Levantado do chão" meu primeiro contato com a maestria de José Saramago).

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