sexta-feira, 18 de junho de 2010

Morre Saramago , mas deixa viva a ética da fraternidade


"Há esperanças que é loucura ter. Pois eu digo-te que se não fossem essas já eu teria desistido da vida."

                                      José Saramago, em Ensaio sobre a cegueira
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O escritor José Saramago morreu na manhã desta sexta-feira, 18 de junho, aos 87 anos. 
 Era também doutor Honoris causa pela UnB. Recebeu o título em 1997, quando veio à Universidade  a convite do Departamento de Teoria Literária e Literaturas do Instituto de Letras , sendo vice-diretor  do IL o seu amigo e meu orientador de doutorado, o saudoso professor 
Almir Bruneti, que nos apresentou.
Nessa bela ocasião tive a alegria de entregar-lhe uma publicação com os trabalhos escritos de minha turma de Letras acerca do livro Ensaio sobre a cegueira. Como estava com as mãos cheias de livros, entregou-os a Pilar, sua mulher,  e, com as duas mãos livres, recebeu o que lhe entregava em um gesto de extrema delicadeza e respeito à literatura e seus leitores.   
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Deixe pra nós registrado o trecho que mais lhe "fale" da obra do escritor.
Vivoverso agradece sua importante colaboração!

15 comentários:

  1. Profa. Sylvia
    É muito interessante quando a obra de um artista o suplanta...
    Saramago será sempre lembrado por sua obra e não por se declarar a favor da pena de morte em Cuba...
    Abraços
    Tato
    Seu ex-aluno mais malcriado

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  2. Obrigada pelo comentário, ex-aluno. Artistas são polêmicos e nem sempre estão certos sob nosso ponto de vista, mas, como aluno de literatura ,você sabe que é preciso ver qualquer afirmação questionável contextualizando-a.Volte aos nossos cursos!

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  3. Engraçado, o Ensaio sobre a Cegueira é o menos saramago dos Saramagos, para mim, talvez porque o estilo do texto foge um pouco ao modelo de longos parágrafos quase sem pontuação de tantos livros marcantes dele... Se fosse eleger o mais genial, escolheria o História do Cerco de Lisboa, em que ele funde magistralmente passado e presente, unidos pela decisão de um revisor de mudar apenas uma palavra em um livro de história. É uma peça de macrhetaria absolutamente única. Também adoro o Jangada de Pedra, que, de todas as imagens fantásticas criadas por ele, tem a mais impressionante, para mim, Portugal inteiro destacando-se da Europa e navegando sem rumo pelo Atlântico... Que metáfora inspiradora!

    E há uma pérola pouco conhecida pela qual tenho carinho especial: "Que Livro é Esse?", uma peça sobre Camões e suas tentativas de fazer Os Lusíadas passar pelo crivo da Inquisição e ganhar o imprimatur. É delicioso.

    Mestra, desculpe não atender à sugestão do post. Não há trecho que dê conta da experiência delirante que é mergulhar nos blocos de texto com que o Saramgo nos envolve ecaptura...

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  4. Peddão, o nome do livro sobre Camões é "Que faço com esse livro?".

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  5. Querido amigo, escritor e jornalista Sergio Leo. Obrigada por sua participação,com a lembrança de narrativas tão preciosas; e por seu "texto", como sempre, perspicaz e preciso !

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  6. A morte nos leva o grande artista, mas não é capaz de nos levar sua obra:
    "Voltaste ao quarto, seguiste o violoncelista quando ele foi à cozinha beber água e abrir a porta ao cão, primeiro tinha-lo visto deitado e a dormir, agora via-lo acordado e de pé, talvez devido a uma ilusão de óptica causada pelas riscas verticais do pijama perecia muito mais alto que tu, mas não podia ser, foi só um engano dos olhos, uma distorção da perspectiva, está aí a lógica dos factos para nos dizer que a maior és tu, morte, maior que tudo, maior que todos nós"

    Este trecho do livro (As intermitências da Morte) não é o que mais me toca ou me fala, pois (como bem disse Sérgio Léo) seria missão impossível. Apenas creio que este trecho retrata o que nos pegou de surpresa: ela, a grande MORTE!

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  7. Que pena q este anônimo (q já teve outras participações inadequadas) não se identifique para podermos esclarecê-lo melhor e tb falar sobre a seriedade deste blog.

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  8. Saramago, grande operário de nossa língua, vamos sempre nos deliciar com sua obra, o grande artista se foi para outra dimensão, mais sua obra continua viva!!!

    Arte de Amar

    Metidos nesta pele que nos refuta,
    Dois somos, o mesmo que inimigos.
    Grande coisa, afinal, é o suor
    (Assim já o diziam os antigos):
    Sem ele, a vida não seria luta,
    Nem o amor amor.

    José Saramago, in "Os Poemas Possíveis"

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  9. Apenas cito:

    "Dificílimo acto é o de escrever, responsabilidade das maiores.(…) Basta pensar no extenuante trabalho que será dispor por ordem temporal os acontecimentos, primeiro este, depois aquele, ou, se tal mais convém às necessidades do efeito, o sucesso de hoje posto antes do episódio de ontem, e outras não menos arriscadas acrobacias(…)"

    — Saramago, A Jangada de Pedra, 1986

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  10. Se o anônimo entrasse só com uma pitada de humor debochado, até sugeriria paciência, mestra... mas, ainda por cima, o anonimato, como costuma acontecer, se presta a calúnias irresponsáveis.

    Saramago nunca defendeu a pena de morte em Cuba, pelo contrário, condenou a retomada das execuções pelo regime cubano, e chegou a afastar-se de castro. (Seis meses depois declarou não ter rompido com Cuba, mas feito uma manifestação quando achava necessário fazê-lo).

    Essas cabeças maniqueístas e rastaqueras que se escondem no anonimato da Internet não são capazes de ver as nunaces da esquera, nem reconhecer que é possível ser solidário a Cuba sem apoiar incondicionalmente o regime....

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  11. A alegria de saber que Saramago nos deixou um universo pintado em cores díspares e unificado pela essência dos universos pessoais de quem o lê, suplanta a dor de sua partida...

    Me recordei do "O conto da ilha perdida". Aquela viagem ao "nada" empreendida por um homem,que vai pedir um barco ao rei, e a mulher que trabalhava no palácio do mesmo... De repente,descobrem-se não mais sozinhos. E navegando percorrem já o que chamam de destino, ainda que deconhecido agora... Deles!

    Inesquecível para mim...

    Evoé!Te saudamos... Felizes por ternos deixado tanta "riqueza".

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  12. ...Vivoverso agradece as manifestações inteligentes, sensíveis e os comentários -especialmente os esclarecimentos de Sergio Leo-
    Um blog sério não é sinônimo de sisudez. Admiramos o humor bem colocado, é certo, mas ficamos com pena do espaço desperdiçado e desrespeitado com os comentários dos anônimos. Ainda bem q são minoria por aqui.
    Valeu!

    E agora deixo estas imagens de Levantado do chão -que para isso aqui viemos:

    "Do chão sabemos que se levantam as searas e as árvores(...)Também do chão pode levantar-se um livro, como uma espiga de trigo ou uma flor brava"

    Valeu!

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  14. "Memorial do convento" é inesquecível para mim. Primeiro pela obra maravilhosa que é e segundo porque foi-me apresentada por uma professora muito especial que também nos deixou:Maria Theresinha do Prado Valladares.

    Eles farão falta...


    BRUNNA GUEDES.

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  15. "Nunca se pode saber de antemão de que são capazes as pessoas, é preciso esperar, dar tempo ao tempo, o tempo é quem manda, o tempo é o parceiro que está a jogar do outro lado da mesa, e tem na mão todas as cartas do baralho, a nós compete-nos inventar os encartes com a vida, a nossa..."
    do Ensaio Sobre a Cegueira.

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