" Falamos de amor - na música, na literatura, na poesia- para evocar o indescritível e justificar uma escolha racionalmente injustificável (...) toda fala de amor é um discurso do não saber (...) aproximando-se por isso da linguagem sagrada e teológica, ou seja, da expressão daquilo cuja verdade jamais se estende, banhada de luminosidade , à frente do olhar humano"
(por José Luís Furtado, em seu livro Amor, Editora Globo, 2008)
Do espetáculo "Fale-me de amor! " apresentado pelo Vivoverso na
"I Bienal Internacional de Poesia de Brasília", lembro alguns dos versos especiais de Affonso Romano de Sant`Anna que permanecem inspirando pesquisas, reflexões e ações:
"I Bienal Internacional de Poesia de Brasília", lembro alguns dos versos especiais de Affonso Romano de Sant`Anna que permanecem inspirando pesquisas, reflexões e ações:
Uns aprendem a nadar
Outros a dançar, tocar piano,
Fazer tricô e a esperar
Na infância cai-se
Para se aprender a andar,
Cai-se do cavalo e do emprego
Aprendendo a viver e a cavalgar
Em alguns aprendizados
Chega-se à perfeição.
Em alguns.
No amor, não.
***
Agora... deixe pra nós seus versos de amor preferidos!
Meu preferido desde as aulas de literatura no ensino médio...
ResponderExcluirSoneto (Álvares de Azevedo)
Pálida, à luz da lâmpada sombria,
Sobre o leito de flores reclinada,
Como a lua por noite embalsamada,
Entre as nuvens do amor ela dormia!
Era a virgem do mar! Na escuma fria
Pela maré das águas embalada!
Era um anjo entre nuvens d'alvorada
Que em sonhos se banhava e se esquecia!
Era mais bela! O seio palpitando...
Negros olhos as pálpebras abrindo...
Formas nuas no leito resvalando...
Não te rias de mim, meu anjo lindo!
Por ti - as noites eu velei chorando,
Por ti - nos sonhos morrerei sorrindo!
***
Abraços,
Brunna Guedes.
"Mas eu descobri a casa onde posso adormecer
ResponderExcluirEu já desvendei o mundo e o tempo de perder
Aqui tudo é mais forte e há mais cor no céu maior
Aqui tudo é tão novo tudo pode ser amor
Mas onde tudo morre tudo volta a nascer
Em ti vejo o tempo que passou
Vejo o sangue que correu
Vejo a força que moveu
Quando tudo parou em ti
A tempestade que não há em ti
Arrastando para o teu lugar
E é em ti que vou ficar
Já é dia e a luz
Está em tudo o que se vê
Cá dentro não se ouve
O que lá fora faz chover
Na cidade que há em ti
Encontrei o meu lugar
É em ti que vou ficar."
Trecho de O Lugar, do cantor e compositor português Tiago Bettencourt.
Cervantes (Don Quixote)
ResponderExcluir"Não lhe hão de valer as suas más artes contra a bondade da minha espada!"
- Iara!
ResponderExcluirÉ um vocábulo guarani: significa a senhora.
Dom Antônio levantou-se; volvendo olhos rápidos, viu sobre a eminência
que ficava sobranceira ao lugar em que estava Cecília, um quadro
original.
De pé, fortemente apoiado sobre a base estreita que formava a rocha, um
selvagem coberto com um ligeiro saio de algodão metia o ombro a uma
lasca de pedra que se desencravara do seu alvéolo e ia rolar pela
encosta.
O índio fazia um esforço supremo para suster o peso da laje prestes a
esmagá-lo; e com o braço estendido de encontro a um galho de árvore
mantinha por uma tensão violenta dos músculos o equilíbrio do corpo.
A árvore tremia; por momentos parecia que pedra e homem se enrolavam
numa mesma volta, e precipitavam sobre a menina sentada na aba da colina.
"- Tu, senhora, zangada com Peri! Por quê?
ResponderExcluir- Porque Peri é mau e ingrato; em vez de ficar perto de sua senhora, vai
caçar em risco de morrer! disse a moça ressentida.
- Ceci desejou ver uma onça viva!
- Então não posso gracejar? Basta que eu deseje uma coisa para que tu
corras atrás dela como um louco?
- Quando Ceci acha bonita uma flor, Peri não vai buscar? perguntou o índio.
- Vai, sim.
- Quando Ceci ouve cantar o sofrer, Peri não o vai procurar?
- Que tem isso?
- Pois Ceci desejou ver uma onça, Peri a foi buscar.
Cecília não pôde reprimir um sorriso ouvindo esse silogismo rude, a que
a linguagem singela e concisa do índio dava uma certa poesia e
originalidade.
Mas estava resolvida a conservar a sua severidade, e ralhar com Peri por
causa do susto que lhe havia feito na véspera.
- Isto não é razão, continuou ela; porventura um animal feroz é a mesma
coisa que um pássaro, e apanha-se como uma flor?
-Tudo é o mesmo, desde que te causa prazer, senhora.
- Mas então, exclamou a menina com um assomo de impaciência, se eu te
pedisse aquela nuvem?...
E apontou para os brancos vapores que passavam ainda envolvidos nas
sombras pálidas da noite.
- Peri ia buscar.
- A nuvem? perguntou a moça admirada.
- Sim, a nuvem.
Cecília pensou que o índio tinha perdido a cabeça; ele continuou:
- Somente como a nuvem não é da terra e o homem não pode tocá-la, Peri
morria e ia pedir ao Senhor do céu a nuvem para dar a Ceci."
O Guarani
O Guarani é a mais delicada e bela história de amor do romantismo brasileiro. Muito belos os trechos escolhidos, Felipe...pura prosa poética!
ResponderExcluirTodos os dias têm a sua história, um só minuto levaria anos a contar, o mínimo gesto, o descasque miudinho duma palavra, duma sílaba, dum som, para já não falar dos pensamentos, que é coisa de muito estofo, pensar no que se pensa, ou pensou, ou está pensando, e que pensamento é esse que pensa o outro pensamento, não acabaríamos nunca mais.
ResponderExcluir( trecho retirado do livro "Levantado do chão" meu primeiro contato com a maestria de José Saramago).